Villa-Lobos em Norwich

Na última segunda-feira (30), feriado na cidade, tive uma agradável surpresa: ouvi composição de Villa-Lobos escapando pelos tubos de um órgão gigante, reverberando no altar da Catedral de Norwich.

O recital aconteceu às 11h da manhã na belíssima construção normanda.

Sentada numa das primeiras fileiras e com o programa a tiracolo, acompanhei a apresentação conduzida pelo organista Neil Ricketts, músico ganhador de prêmios e prêmios ao redor deste país.

A apresentação se deu assim:

As primeiras duas composições foram de músicos ingleses. Carillon on “Orients Partibus”, de Arthur Wills (1926), foi um pouco chocante. Era a primeira vez que ouvia um órgão sendo tocado ao vivo e parecia que uma criança estava socando as teclas, sem critério algum.

Fiquei desapontada com minha ignorância musical. Então começou a tocar Voluntary nº1 in C, conforme apontava o útil folheto que tinha em mãos.

Voluntary nº1 in C é uma composição do organista barroco John Stanley (1712-1786). A execução desta, para mim, foi a mais bonita do programa. Parecia uma canção para a primavera, ode aos jardins.

Vez ou outra, o sol aparecia. E quando isso acontecia, todos os vitrais brilhavam. Aquele órgão, aqueles vitrais, os raios de sol, essa combinação era fascinante. Como ter o espírito elevado. Entendi então a importância destes elementos na história da religião cristã. Eram símbolos. Estar naquela catedral fria, embalada por tantas canções, era uma espécie de oração.

Ricketts foi até J. S. Bach. Voltou para dar uma pausa e anunciar que tocaria uma das Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos.

Villa-Lobos, que surpresa! Vocês sabem, brasileiro, quando cruza uma fronteirinha que seja, vira o mais patriota de todos. Olhando para o teto, com os entalhes esculpidos ao longo dos séculos, fiquei alegre em ouvir um dos marcos da carreira do músico, a Bachianas Brasileiras nº5. É bonita a história da composição: foi dedicada a Mindinha, segunda esposa de Villa-Lobos.

Lamentando meu conhecimento pífio em música clássica, sobrou-me o prazer de admirar a idéia de tubos que expelem ar e fazem um som tão bonito.

Ricketts também interpretou a ária final da dramática ópera Tristão e Isolda. Saltou para a França, com Camille Saint-Saens (1835-1921), e para a América, com Charles Ives (1874-1954). Eclético esse organista, pensei.

Depois do recital, passei sem querer por uma exposição muito bonita: Creation, da artista local chamada Jackie Smith. Colchas bordadas, acompanhadas de trechos bíblicos e poemas, retratavam os sete dias da criação. Me lembrou o grupo Mulheres de SFX, que fazem bordados tão bonitos quanto o dela.

Encerrei o passeio no café da catedral. Tentando relembrar das maravilhas das padarias no Brasil, pedi um tal de scone e chá . Mas o scone não tinha nada a ver com o gosto experimentado nas padarias brasileiras.

Saí da catedral pelo pórtico mais lindo do mundo e caí num jardim colorido. Que manhã cheia de luz, pensei.

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7 pensamentos sobre “Villa-Lobos em Norwich

  1. Oi Keyla.

    Maravilhamento e’bom demais,ne’?
    Passei por momentos muito parecidos ao seu, quando na França eu morava.
    Sua deliciosa descrição me fez viajar no tempo e no espaço.
    Obrigado…

    Bjs

  2. Keila

    na próxima semana contarei á mulheres de São Chico que foram bem lembradas em Norwick, England, a terra da rainha após um Villa Lobos soprado nos ouvidos dessa inspirada jornalista …

    Um beijo da Msauisa

  3. Keila! Que bonito o som do ógão é, né!
    Imagino a emoção que vc deve ter sentido nos momentos em que o sol batia nos vitrais! Que lindo!

    …Só não entendi pq vc estava esperando sentir gostinho de brasil num scone, uma das coisas mais típicas inglesas, hehe…

    Saudades, baby!!
    Beijos!!!

  4. “Que manhã cheia de luz, pensei.” Meu amor, saindo para um dia luminoso e enchendo seu coração dessa Luz – ornada pelo som do órgão da Catedral – é tudo que há de bom na vida.

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